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Araçuaí / MG *1945
Conheci a Maria Lira e seus bichos antes desse merecido reconhecimento e a sua figura encantadora já assegurava uma vertiginosa ascensão profissional.
Como quase sempre ,ela,assim como muitos outros artistas populares, teve patéticos julgamentos que classificavam a sua expressão artística como artesanal e que hoje , depois do espanto geral,recebe aplausos internacionais .
Ela é, certamente, uma das maiores artistas nacionais. – Pedro Olivotto
Frei Chico falou assim comigo: “ô, Lira, vai desenhar”. Eu fiquei nervosa por dentro: “mas eu nunca nem peguei em um pincel”. Daí Frei Chico pegou as máscaras da parede e falou que aquilo que eu fazia já era desenho. Ele juntou tintas, pinceis e papéis e falou para eu experimentar. Eu estava muito chorosa, mas comecei a desenhar. De vez em quando, ele vinha e falava que estava bonito. Crescia raiva por dentro de mim, porque eu achava que era somente para me animar. Eu falei que ia rasgar essas coisas, e ele, com medo, pediu para dar para ele. Ele dizia: “isso aqui eu vou mostrar para a Lélia Coelho Frota”, que na época estava à frente da Coordenação de Folclore e Cultura Popular da Funarte. Ele mesmo se incumbiu de guardar. E eu fui pintando. Não havia papel que chegasse, mas ia curando minha tristeza. Até que Lélia chegou em BH para buscar as peças para exposição da Sala do Artista Popular que eu ia fazer no Rio de Janeiro e que estavam guardadas na casa de Frei Chico. Frei Chico falou que tinha uma surpresa e mostrou as pinturas. E a Lélia endoidou: “já gostava da sua cerâmica, mas a pintura ultrapassou”. E já levou alguns desenhos também para uma exposição no Rio. – Maria Lira Marques
Maria Lira Marques nasceu em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. A artista é ceramista, pintora e pesquisadora autodidata.
Aos cinco anos, aprendeu observando a mãe a fazer esculturas. Mas suas primeiras peças foram moldadas com cera de abelha, que o pai usava na sapataria.
Boa parte do que aprendeu sobre a terra foi com uma vizinha, artesã e ceramista da região, conhecida por “dona joana”. A curiosidade e interesse foram fazendo-a descobri novas técnicas.
Nos anos 1970, conheceu frei Chico, missionário holandês, amigo e parceiro profissional, com quem documentou a cultura popular do Vale do Jequitinhonha. Gravou cantos e rezas tradicionais. Resultado dessa parceria, a cidade ganhou um museu dedicado à história e cultura popular da região. Foram nas viagens realizadas com frei Chico, e com a ajuda dele, que ela coletou terra de várias tonalidades e cores, na Chapada Diamantina, em belo horizonte e por onde passavam. A terra colorida foi colocada em vidros, que ela admira, se inpira e usa nas suas obras em geotinta.
Diagnosticada em 1994 com uma grave tendinite, Maria Lira, por incentivo do frei chico passou a pintar, usando a terra como pigmento. Entre bichos mágicos imaginários e do sertão, Maria Lira traça com pigmentos do barro, em camadas cromáticas a representação lírica, sonhadora, imaginária e de animais sem forma definida. Pura poesia que a cada dia recebe maior reconhecimento e, até dia 26 de maio, pode ser vista na mostra roda dos bichos, no Museu Tomie Otake, em São Paulo.