Artistas

Zé é do cruzamento do ritmo da infância com o rasgo da arte definitiva
É onde e em quem a poeira e a arte se juntaram pra alegria do mundo! – Pedro Olivotto

Tem vezes que a madeira chega e eu não faço quase nada, ela já vem pronta. – Zé Bezerra

Dele disse o escultor Véio: “Esse vive de comer poeira e arte.”

Esildo Barros Ramos, o Zé Bezerra, nascido em 1952 na cidade de Buíque, interior de Pernambuco, tem uma trajetória de vida marcada pela diversidade de atividades que a pobreza lhe impôs. Desde lavrador até trabalhador braçal, suas experiências moldaram sua relação com a arte. A inspiração para sua escultura veio há alguns anos, em um sonho que o convocava a se tornar artista. A partir desse momento, começou a olhar para as madeiras ao seu redor de forma diferente, buscando nas formas naturais dos troncos e galhos as figuras que esculpiria.

Sem seguir a tradicional escultura a partir de um bloco definido, Zé Bezerra procura identificar figuras que já se insinuam na própria madeira e trazê-las à tona com seus instrumentos rudimentares. O resultado são esculturas marcadas pela intensidade e pela expressividade singular, utilizando principalmente toras retorcidas típicas da vegetação local, como a umburana.

A temática de suas obras, que inclui animais e formas humanas, não se limita ao realismo simples, mas sim à expressão artística que sugere figuras lutando para emergir da matéria. Essa abordagem estética, que valoriza a imaginação, afasta suas peças do rótulo de arte popular, embora estejam enraizadas na vida rural e nas tradições do sertão nordestino.

Zé Bezerra expõe seu trabalho em mostras individuais e coletivas desde 2007, tanto no Brasil como no exterior, colaborando para a divulgação da arte nordestina além das fronteiras nacionais. Seu ateliê no Vale do Catimbau não apenas é um espaço de criação, mas também um local de formação de novos artistas, contribuindo para o desenvolvimento cultural da região.

Como um dos grandes mestres da arte da madeira no Nordeste, Zé Bezerra, ao lado de outros renomados escultores, representa as camadas economicamente desfavorecidas da população brasileira. Sua produção artística, caracterizada pela linguagem sintética e expressiva, transmite a mensagem dos espíritos da caatinga sobre a força e a magia dos seres da mata, contribuindo assim para preservar e difundir a riqueza cultural dessa região tão singular.